Trabalhadores contribuíram com informações e experiências para construção do sistema, que utiliza softwares livres
 De acordo com projeção do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada 
(Ipea), se todo o potencial de reciclagem do Brasil fosse explorado, 
haveria um ganho em torno de R$ 8 bilhões por ano. Parte desse trabalho,
 que ainda é de formiguinha, é feita pelos catadores, reunidos ou não em
 cooperativas nos grandes centros. 
O coordenador do Movimento 
Nacional dos Catadores de material Reciclável (MNCR) em Minas, Luiz 
Henrique da Silva, diz que, embora o reconhecimento da sociedade em 
relação a esses trabalhadores tenha avançado muito, ainda faltam 
informações para quantificar a economia que eles significam para os 
cofres públicos.
Para organizar informações tão preciosas, foi 
criado o projeto Reciclar em Rede, que desenvolve uma ferramenta de 
acesso às informações fornecidas pelas associações e cooperativas de 
coleta de resíduos sólidos mineiros, um portal de referência para a 
reciclagem. O Web Map - Reciclar em rede teve início em 2010 e reuniu a 
organização não governamental Instituto Nenuca de Desenvolvimento 
Sustentável (Insea), a TI-Geo Geotecnologias e Consultoria Ambiental e o
 MNCR.
Foi realizado um diagnóstico envolvendo 1.200 catadores de
 108 municípios e 110 associações e cooperativas. Segundo Luiz Henrique,
 que integra a Asmare desde 1991 e foi um dos fundadores do movimento 
nacional, em 2001, o objetivo é dar visibilidade de forma organizada e 
permitir a utilização em várias cooperativas e instituições que reúnem 
os catadores.
O objetivo é implantar a tecnologia de rede, 
desenvolvida no contato com as associações e cooperativas, e oferecer 
uma ferramenta computacional de monitoramento e gestão das informações. 
Um mapa interativo do Estado de Minas Gerais será alimentado com 
informações geradas no cotidiano de trabalho das instituições. 
O portal vai aumentar também a capacidade de comunicação entre os 
catadores, fomentando a criação de consórcios e grupos de gestão 
coletiva. Outras ferramentas serão desenvolvidas na segunda etapa, que 
consiste na apropriação da ferramenta pelas cooperativas e associações 
de coleta de resíduos sólidos. A cada ferramenta implementada, as redes 
sociais serão utilizadas para que todos os envolvidos possam contribuir.
Luciano
 Marcos Silva, diretor presidente do Insea, lembra que a reciclagem gera
 a economia de bilhões de litros de água utilizada na indústria, reduz a
 extração de matéria-prima e de energia, além de contribuir para o 
equilíbrio ambiental das cidades e a preservação dos mananciais. “Neste 
sentido, o banco de dados busca sistematizar a contribuição fundamental 
desses atores sociais e trabalhadores, valorizando suas iniciativas e 
contribuindo para superação dos problemas que vivenciam no seu processo 
organizativo”, explica.
Criado em 2001, o Insea desenvolve também ações de geração de trabalho e
 renda, oferecendo cursos e apoio aos catadores e associações. O 
projeto, que está na fase de teste e utiliza softwares livres nacionais,
 contou com o apoio da Fundação Banco do Brasil através do Projeto 
Cataforte e das prefeituras municipais que realizam trabalho com 
catadores. Na segunda etapa, qualquer cidadão poderá acessar os dados da
 reciclagem em Minas Gerais. 
ImpactoDe todo
 o lixo produzido no Brasil, cerca de 40% são compostos por material 
orgânico e o restante, cerca de 60%, por produtos cujos componentes têm 
potencial para serem reciclados ou reutilizados. Em algumas situações, a
 reciclagem atinge percentuais elevados, como no caso das latas de 
alumínio (98%) e das garrafas PET (57,1%). Do total de lixo 
não-orgânico, de 25% a 30% são reciclados.
Em Belo Horizonte, dez organizações de catadores, que reúnem 535 
trabalhadores, retiram das ruas 1.200 toneladas de material/mês (números
 de abril). O número corresponde ao total comercializado, ou seja, o que
 realmente foi reaproveitado. Cerca de 40% do que é retirado das ruas 
não pode ser reciclado e é enviado ao aterro, segundo Luiz Henrique.
Esse
 número corresponde a apenas 1% do total recolhido por mês pela 
Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) na capital, que inclui o 
entulho e o lixo orgânico. “O projeto pode ajudar a promover um 
reconhecimento de que esses trabalhadores devem receber uma remuneração 
pelas prefeituras. O poder público tem uma tendência de colocar as 
cooperativas para se relacionarem com o setor de assistência social, mas
 não queremos assistencialismo”, define o diretor do MNCR.
 Ele explica que, há alguns anos, não havia a jurisprudência para 
viabilizar o pagamento por esse serviço, uma vez que todas as 
contratações teriam que ser feitas por meio de licitação. “As leis 
11.445, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; e a
 lei 12.305, que Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, 
permitem a prestação de serviços de coleta seletiva por meio de 
consórcios. Hoje, temos alguns convênios, mas que não nos dão garantia 
de continuidade”, relata Luiz Henrique.
O MNCR defende que sejam 
firmados contratos, para permitir estabilidade mesmo com as trocas de 
governo. A assessoria da prefeitura de Belo Horizonte informou, no 
entanto, que ainda não foram realizadas conversas no sentido de alterar
 http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/rio-mais-20/noticias/2012/07/02/noticias_internas_rio_mais_20,303706/internet-reune-dados-sobre-reciclagem-e-ajuda-gestao-de-cooperativas-de-catadores.shtml