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quinta-feira, 17 de março de 2011


Vejam que matéria importante sobre os catadores na pessoa de Severino Jr.

10 Perguntas para Severino Lima Júnior - O Brasil dá Exemplo

Severino Lima Júnior começou a trabalhar em um lixão. Aos 12 anos, vivia de selecionar material reciclável em Natal (RN). Hoje, como um dos líderes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), ele não só dialoga com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a recém-eleita Dilma Rousseff, com quem se encontrará dia 23, como tem participado de conferências para chamar a atenção para a categoria. São pessoas que mantêm rotinas duras, passam noites nas ruas, empurram carroças e, em alguns países, sofrem até perseguições.

Nesta entrevista concedida por telefone do México, onde participou da 16ª edição da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16), ele conta sobre a articulação internacional de catadores e a resistência à incineração como forma de se livrar do lixo.

1 – Como vocês se organizaram para participar da COP-16?

Estamos nos organizando faz tempo e participamos não só desta, mas de todas as conferências. Construímos uma aliança internacional para trocar experiências. Antigamente, participávamos só de eventos paralelos, hoje organizamos eventos e, quando vamos para as discussões, não vamos apenas para ver e fazer perguntas simples, mas para fazer questionamentos aos comitês.

2 – E como vocês têm sido recebidos?

Não é fácil levar novidades, principalmente para quem vem de um país que tem políticas públicas de apoio aos catadores como o Brasil. Em alguns países, como a Índia, não há apoio nenhum. Em outros, como a Colômbia, há perseguição. Mas de modo geral conseguimos colocar nossas propostas. Elogiaram nossa organização.

3 – Vocês são contra a incineração?

A incineração é apresentada como uma novidade ecológica. Falam em reaproveitamento energético, mas, na realidade, vão apenas tirar o material reciclável e enfraquecer a categoria. Hoje são 800 mil catadores no Brasil, 2 milhões na América Latina e 20 milhões no mundo. Todos ameaçados de ficar sem trabalho. Sem falar que a tecnologia não é limpa. Os países europeus querem exportar máquinas de incineração saturadas, paradas, prestes a virar sucata, dissimulando tudo com um discurso ecológico.

4 – Mas não se gera energia com a queima do lixo?

Qual o sentido de pegar plástico e queimar para depois ter que tirar petróleo de novo da natureza e produzir mais plástico? É absurdo falar que isso é reaproveitar energia. No Brasil, dá para gerar energia limpa de verdade, usinas eólicas (de vento), solares. Mas não, em vez disso temos usinas (de incineração) procurando catadores para comprar material reciclável e queimar.

5 – O que poderia ser feito então?

No Brasil, temos o Pró-Catador, um programa para incentivar a reciclagem e o reaproveitamento. O lixo orgânico vira compostagem, o que pode é reciclado e o que sobra, cerca de 10% a 15%, é incinerado. Mas é mentira dizer que a incineração é limpa. Visitamos usinas na Holanda, Itália e França e fomos aos incineradores. O material vira uma cinza que não serve para nada.

6 – E reciclagem?

Na Europa eles não reciclam tanto. A maioria dos países incinera o lixo, acham mais fácil colocar em uma máquina e pronto. A matriz que se desenha no Brasil é a melhor possível. Os catadores conseguem tirar 80%, 90% do material e sobreviver da reciclagem. Estamos no caminho certo. É uma atividade que gera emprego e melhora a vida de quem vive à margem da sociedade.

7 – E o que mais vocês defendem?

A regulamentação da profissão pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e mais políticas públicas para garantir a atividade. Além disso, defendemos a criação de um fundo global administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para beneficiar os recicladores. Fazer alianças é fundamental para conseguir conquistas. Hoje temos inúmeras organizações, pelo menos 200 no Brasil, mesmo com dificuldades. Montar uma cooperativa custa caro. A lei para uma de catadores é a mesma que para uma de médicos.

8 – Como é representar os recicladores em uma conferência internacional?

Fico muito orgulhoso. Saí de um lixão de Natal (RN) aos 12 anos. Não imaginava sequer que havia catadores em outros estados. Depois veio o movimento nacional do Brasil. No começo, se usasse um laptop, olhavam estranho. Era como se catador tivesse que andar sujo, falar errado. Avançamos e desde 2001 estamos identificando companheiros no exterior, fazendo alianças. Temos ótima relação com o presidente e temos sido tratados com respeito.

9 – E agora com Dilma Rousseff?

É continuidade de governo, mas com mudanças. Não é pelo simples fato de o Lula estar passando o poder para ela que esperamos que tudo se resolva. Vamos construir a relação, conquistaremos o apoio dela. E, de todo modo, a gente não constrói só relacionamento, mas políticas públicas. Tudo que conquistamos está consolidado. Pode vir governo de direita, de esquerda, as políticas estão construídas.

10 – O presidente Lula não foi ao México alegando que a COP-16 “não ia dar em nada”. É isso?

Não é a primeira vez que ele fala assim. A gente entende que ele, com agenda saturada, não vá para um evento em que tudo está armado para não dar em nada. Pelo status que ele tem, poderia ter dito de outra forma, mas quando o Lula quer falar, fala de coração. Nós esperamos que, mesmo que não saiam acordos, os integrantes de governo e organizações internacionais entendam que somos aliados, fortes e unidos. Queremos ser reconhecidos. Sabemos da nossa responsabilidade com o meio ambiente. Não queremos, por exemplo, que a população consuma mais para termos mais trabalho. Reduzam as embalagens. Somos a favor do meio ambiente, pensamos em nossos filhos.
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Fonte:http://www.folhauniversal.com.br/integra.jsp?codcanal=9983&cod=151065&edicao=976

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